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O meu bebé exigente

      Se o seu bebé a desgasta mais do que seria expectável, sente-se tão cansada e com tanto sono que não sabe por quanto tempo mais aguentará...talvez agora se possa sentir um pouco menos sozinha pois garanto-lhe que sei exactamente o que isso é.
      William Sears, pediatra americano, descreve o que é um High need baby. Pode consulta o texto original em inglês:
http://www.askdrsears.com/topics/health-concerns/fussy-baby/high-need-baby/12-features-high-need-baby
      Os espanhóis chamam-lhes de Bebés de alta demanda e os franceses de Bébés aux besoins intenses  (Babi).
       Por simpatia com o termo francês vou chamá-los de Babi.
       Os Babi são bebés que podem ter várias ou todas as seguintes características:
1)  Intensos - são extremamente enérgicos, parecem estar sempre alerta, tensos e preparados para a acção. Choram alto, protestam com força, riem com gosto.
2) "Hiperactivos" -  Corpo e mente em permanente agitação e tensão. Em comparação com as outras crianças são mais activos. Dormem pouco e procuram sempre algo para explorar e desafios novos.
3) Absorventes - absorvem toda a energia dos seus pais. Exigem constante atenção, contacto, carinhos, colo, brincadeiras. Exigem dos seus pais uma disponibilidade quase sobre humana e uma paciência imensa. O desafio reside em manter sempre uma atitude positiva.
4) Mamam com frequência - com estes bebés não será possível respeitar o intervalo entre refeições muitas vezes recomendado pelos pediatras. Deverá amamentar em livre demanda, isto é, sempre que o bebé pedir.   Mamam rápido e muitas vezes.
5) Exigentes - Não gostam de esperar, são pouco flexíveis e dificilmente aceitam alternativas. Quando não vêm as suas exigências cumpridas manifestam intensamente o seu desagrado.
6) Acordam com frequência - Durante o dia não dormem ou fazem sonos muito curtos (de alguns minutos). Durante a noite acordam com muita frequência (há pais que referem cerca de 10 vezes por noite. Têm um sono muito leve acordando muito facilmente ao mínimo ruído. Poderá ser difícil acalma-los e faze-los regressar ao sono.
7) Insatisfeitos -  Há dias que nada os acalmará e os pais acabam por sentir-se totalmente impotentes e, muitas vezes, acabam por duvidar das suas competências enquanto pais.
8) Imprevisíveis - O que funcionou num dia para acalmá-lo poderá já não ser útil no ia seguinte. Tendem também a mudanças frequentes de "humor": quando estão felizes são os bebés mais felizes do mundo mas quando estão aborrecidos são os bebés mais difíceis do mundo. Os pais destes bebés sentem-se frequentemente frustrados e cansados.
9) Super-sensíveis - Estão sempre alerta o que os torna muito sensíveis ao ambiente que os rodeia reagindo com intensidade a mudanças ou ambientes desconhecidos. Dificilmente aceitam cuidadores substitutos.
10) Exigem colo e contacto constantes - Eles exigem colo e contacto físico constante mas para alguns nem isso os acalmará. Muitos exigem um "colo andante".
11) Não se acalmam sozinhos - Precisam de ajuda para dormir pois não sabem relaxar sozinhos.
12) Sensíveis à separação -  Não gostam de se separar dos seus pais, dificilmente aceitam cuidadores substitutos e demoram a afeiçoar-se a estranhos.
      Estas características poderão manifestar-se em diferentes fases do desenvolvimento.

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Welcome to Boot Camp

       A estadia na maternidade foi uma experiência dura. Por um lado ansiava ir para a privacidade da minha casa viver aquele momento com o pai do meu filho e, por outro, as condições e a organização da maternidade tinham várias fragilidades. Para o pai que acompanhava o parto não havia sequer uma cadeira para se sentar....depois de 30 horas a acompanhar todo o processo,  sem dormir, essa passa a ser uma questão fundamental.
      Como recepção de boas vindas a obstetra  de serviço recusou assinar a minha entrada na maternidade por ter optado pelo parto natural.   
     Ao longo do trabalho de parto tive de continuar a lidar com as lutas internas da maternidade relativamente aos profissionais a favor e contra o parto na água tendo sido pressionada psicologicamente por uma das obstetra  que esfregou as mãos de contentamento quando tudo culminou numa cesariana... estava até  efusiva enquanto a realizou.
     Cerca de 4 horas após a cesariana tínhamos de tomar banho, as dores eram horríveis sempre que tentava mover-me e ainda lidar com a indiferença e a falta de sensibilidade das auxiliares que nos davam banho e ordens impacientes sobre como deveríamos agir.   Cheia de dores, atordoada pela falta de sono e pela medicação, aquela invasão de privacidade pela falta de  empatia demonstrada era um momento no mínimo surreal e bizarro...concentrei o meu pensamento no meu filho.
      Apesar de estarmos em Maio a maternidade era tão quente que parecia estarmos num tórrido dia de Verão suando constantemente.
      Os meus pés estavam tão inchados que pareciam que iam rachar à mínima tentativa de caminhar. 
      A maternidade apesar de ter vários quartos vazios, as parturientes eram concentradas todas no mesmo. Eram quatro camas por quarto.
     No quarto onde estávamos, dois dos outros bebés tinham nascido de cesarianas feitas com anestesia geral. Eram bebés particularmente irritáveis  que choraram sem parar desde que nasceram, provavelmente, pelas circunstâncias dos seus nascimentos.  As mães destes bebés passavam o tempo a tocar à campainha pedindo socorro às enfermeiras por não entenderem o que se passava com os seus bebés, incapazes de os acalmar  e completamente dominadas pelo sono.  O terceiro bebé tinha nascido de parto vaginal com epidural mas tinha uma inflamação acentuada nos olhos que o incomodava e o impedia de sossegar.
       Este quarto foi particularmente barulhento, o mínimo de privacidade, tranquilidade e silêncio era totalmente impossíveis. Noite e dia a agitação era constante.
       Quanto às enfermeiras, havia para todos os gostos: desde as que agrediam as parturientes, às que tinham um certo prazer em verbalizar às mães a sua incompetências pois os bebés calavam-se no colo delas, as especialistas das cólicas que as tinham como única explicação para o choro dos bebés fazendo prolongadas demonstrações sobre massagens, as especialistas radicais sobre amamentação, às mais adequadas e assertivas.
       Depois havia o ritual de tortura que era repetido duas vezes ao dia e as barrigas de cesariana tremendamente doridas eram fortemente calcadas e iniciava-se uma sessão de gemidos que ecoavam pelo quarto.
      Um dos obstetra que após reclamar constantemente que as mulheres de hoje não sabiam "parir", diz-me num tom meio irónico que me ia fazer o favor de me arrancar gratuitamente o penso da costura da cesariana e puxou-o violentamente arrancando-me pele e carne ficando com mais uma cicatriz de "guerra" como recordação. As feridas ficaram cheias de cola do penso e tive direito a mais uma sessão de tortura infrutífera para tentar tirá-la. Numa tentativa de dar um toque cómico a toda a situação brinquei dizendo que entre a cicatriz da cesariana e a ferida iria tatuar : maternidade de Setúbal 2013. 
      A determinada altura, dado o Miguel estar sempre a mamar numa tentativa de se saciar, por o leite ainda não ter descido, os meus mamilos ficaram gretados e mal suportava qualquer roupa em cima.
Às duas da manhã tive direito a um raspanete de uma das  enfermeiras, que não primava nada pela simpatia, dizendo que eu teria de, obrigatoriamente, usar o soutien de amamentação.
     Com isto tudo eu tentava manter-me no máximo de privacidade com o Miguel, apesar de exausta mantive-me sempre alerta não tendo voltado a dormir até sair da maternidade.
       Os vários tipos de  violência subliminar muito presente naquele quarto deixavam-me espantada e a minha intuição dizia-me para ser o mais discreta possível e ficar no meu canto com o meu filho.
       Nos momentos que o Miguel dormia eu tentava auxiliar as outras mães que caiam de exaustão com os seus filhos no colo.   
       Exceptuando para o pai só havia uma hora de visita ao fim da manhã o que significou que recebi apenas uma visita  de uma amiga que morava na região dado que me encontrava longe de casa.
       A única noite que decidi abordar uma enfermeira foi na última. Doze horas depois do seu nascimento o Miguel começou a ficar agitado. Essa agitação foi crescendo. Devido à cesariana  o meu leite só desceu 6 dias depois. Na última noite na maternidade, o Miguel reclamava de fome e a perda de peso era visível  e partilhei essa minha preocupação com a única enfermeira presente, a do raspanete, que se limitou a dizer-me com marcado desprezo e virando-me as costas: “faça rifas e compre-as todas …”. Na altura nem entendi o comentário nem tive qualquer argumento ou reacção.
      No dia da alta da maternidade, veio uma pediatra dizer-me que o Miguel não podia ter alta devido à perda de peso. Eu que me tinha mantido tranquila até aquele momento desabei. Ficar ali mais um dia parecia-me incomportável. Argumentámos com a pediatra sobre os motivos de ser pior para mim e para o Miguel ficarmos internados. Expliquei o porque da perda de peso. Ela resistiu mas acabou por considerar os nossos argumentos e propôs que o Miguel fizesse análises antes de assinar a sua alta. Custou-me muito mas acedi. Pouco depois o Miguel volta com um lenço amarrado à volta da mão em que o tinham picado e recebo-o de coração apertado.
      Conseguimos sair da maternidade às 21:30 depois das análises confirmarem que estava tudo bem com o Miguel. Eu e o Paulo quase que corremos dali para fora  como quem sai de uma cela prisional  sem qualquer saudosismo e sem olhar para trás.
      Adeus boot camp!

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As primeiras horas

         Nas primeiras 12 horas estiveste tranquilo numa espécie de estado de hibernação...talvez ainda como eu meio atordoado com as substâncias administradas para a cesariana.
         Lembro-me da mensagem que enviei aos familiares e amigos a comunicar o teu nascimento: "Por enquanto é sereno..." . Parece que dentro de mim algo já sabia que virias a expressar-te de forma intensa e quase estranhava aquele ar pacífico e de quem dorme profundamente esquecido de si próprio e do mundo.
         Deliciei-me a olhar para ti enquanto permanecia numa mistura entre cansaço extremo e espanto. Eu estava fascinada com o facto de estares junto a mim...tinha sido um caminho tão longo. Por momentos tinha receio que a tua existência fosse apenas um sonho bom. Tentei absorver e decorar cada expressão e cada gesto teu.
         À nossa volta havia um ruído imenso mas durante algum tempo conseguimos manter-nos só tu e eu numa outra dimensão.
         Já não dormia há dois dias e acabei por adormecer cerca de 45 minutos. Recebemos uma visita e eu nem dei conta pois abandonei-me por um pouco ao meu estado de exaustão. Quando acordei tu continuavas ali, num pequeno berço transparente, e aos pés da cama tinha um carinhoso recado de uma amiga.

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O Encontro do elevador

      Mamaste pela primeira vez no recobro e não mostraste qualquer dúvida ou hesitação sobre como o fazer.
      Depois levaram-nos para o quarto e foste deitado na cama comigo. Fomos levados pelos corredores do Hospital até que chegámos junto a um elevador que nos ia levar para outro piso.
     Momentaneamente, as auxiliares que nos levavam afastaram-se. Nessa altura, uma mulher emocionada aproximou-se de nós e disse que tu eras lindo e deu-me os parabéns. Contou-me rapidamente que a filha estava em trabalho de parto e aguardava ali por ela para tentar vê-la de passagem.
      Felicitou-me em jeito de despedida bastante emocionada e maravilhada pela tua presença. Senti uma saudade incrível da tua avó. Não me recordo das feições daquela mulher, não sei quem é, nem o seu nome e ela nunca saberá a importância da sua fugaz presença naquele momento.

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Que bom ter-te aqui!

     Que bom ter-te aqui!
     Que bom poder sentir-te!
     Que bom poder cheirar-te!
     Quando te vi pela primeira vez não pude abraçar-te tal como merecias ao chegar.
     Quando te vi achei-te incrivelmente parecido com o teu pai e a expressão "mini-Paulo" passou na minha cabeça com uma pitada de humor apesar de todo o enquadramento.
Estavas a dormir quando nasceste.
      Levaram-te para longe de mim e pouco depois ouvi-te chorar. Trouxeram-te pouco depois e uma enfermeira encostou-te à minha cara. Tentaste  mamar na minha bochecha e a enfermeira riu.
Como ainda estavam a terminar a cirurgia levaram-te novamente.Voltei a ver-te no recobro e vieste ter comigo no colo do teu pai. Este foi o momento mais emotivo e mais feliz da minha vida: ver-te  chegar para os meus braços no colo do teu pai.
     Que bom ter-te finalmente comigo: és simplesmente maravilhoso e fascinante.

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O Nascimento

        A altura do nascimento é um momento importante para toda a família mas sobretudo para os  "actores" principais: mãe e bebé.
       Sabendo da importância de um parto natural e da possibilidade de intervenções como o parto provocado, de uma cesariana, da analgesia epidural poderem contribuir para uma vivência traumática do momento do parto para o bebé, preparei-me para um parto natural e o menos medicalizado possível.
      Durante vários meses li sobre estas questões e li as recomendações da OMS:

http://www.bionascimento.com/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=19

      Dado que não receava a dor do parto percebi que esta era a opção certa para mim e era a forma como eu queria viver este momento com o meu filho.
     Apesar de confiar plenamente no meu obstetra que trabalha num Hospital particular, de ser uma pessoa extremamente empática e humana, sabia que seria difícil escapar a algumas das intervenções  no momento do parto tendo em conta os protocolos do Hospital e a disponibilidade do médico para garantir que seria ele a assistir o parto.
      Optei por um Hospital público com um projecto de parto natural e com a possibilidade de fazer o trabalho de parto na água.
      No dia 6 de Maio, um pouco antes da meia noite, rebentaram-me as águas. Não queria ir logo no início do trabalho de parto para o Hospital por isso passei essa noite em casa. Passei a noite acordada pelo entusiasmo da proximidade do nascimento do Miguel . Às 7 da manhã decidimos que era hora de ir para a maternidade dado que a bolsa já estava rota há várias horas e porque me sentia inquieta dado perceber que não havia evolução do trabalho de parto. Apesar de ter intuído que algo podia não correr bem decidi fazer todo o possível para conseguir um parto natural e ir para a maternidade escolhida apesar de ser longe de casa.
       O Miguel só nasceu às 7:57 da manhã do dia 8 de Maio. Mantive-me sorridente e entusiasmada a maior parte do tempo de trabalho de parto, as contracções eram bastante dolorosas mas suportáveis mas no fundo a minha inquietude mantinha-se pois a dilatação pouco evoluía. Como a dilatação não evoluía o suficiente para poder entrar na piscina, ia aliviando-me com uns duches. A determinada altura percebi que algo tinha acontecido pois para além das dores das contracções, apareceu outra dor constante e muito difícil de suportar que se agravava muito durante as contracções. Parecia que a minha bexiga estava a ser arrancada e que uma espada me atravessava o lado direito do meu corpo. Foi nessa altura que decidiram tentar emergir-me na piscina mas as dores eram tantas que não consegui relaxar ou beneficiar de qualquer ajuda que a água me pudesse dar. Comecei a questionar a enfermeira que estava presente sobre se algo de errado se passava. Lembro-me de perguntar se estaria com uma cólica renal. Mais tarde chega uma enfermeira mais experiente que me explica que o Miguel se tinha deslocado e que era a posição em que ele se encontrava que me provocava aquelas dores.  Extremamente cansada pelas dores e pela falta de sono, depois de 30 horas de trabalho de parto comecei a perceber que o meu filho não nasceria naturalmente. Desconfiei que tudo acabaria numa cesariana e questionei uma enfermeira para me confirmar o que eu já sabia: se a cesariana tivesse de ser repentina por o bebé entrar em sofrimento seria com anestesia geral. Pior que uma cesariana seria uma cesariana com anestesia geral e estar a dormir enquanto o meu filho nascia. Após 36 horas cedi à oxitocina  como última tentativa de ter um parto vaginal e depois à epidural para o caso de tudo terminar numa cesariana. O Miguel nunca mostrou sinais de sofrimento mas tinha-se desviado da sua trajectória e o trabalho de parto parou. Teríamos de fazer uma cesariana disse-me uma das obstetras dado eu estar há muitas horas com a bolsa rota e, nesta fase, eu já estava tão preocupada com o meu filho e tão exausta que já só desejava vê-lo. Chorei durante toda a cesariana de forma silenciosa mas não conseguindo conter a desilusão de ter o meu filho através de uma cirurgia . Senti a intervenção como um momento extremamente agressivo. Apesar disso, o momento não foi traumático para mim pois a felicidade de olhar o meu filho reduziu aquele momento a um mal necessário para o ter nos meus braços. O que representou verdadeiramente para o Miguel, ser arrancado daquela forma de dentro de mim, é algo que não vou poder afirmar como uma verdade  inquestionável mas julgo ter uma convicção sobre esse assunto que muito se deve aproximar da realidade. Sobretudo porque o Miguel lutou de todas as formas que podia para ficar onde ele achava ainda ser o seu lugar: no ventre da sua mãe.
       Para quem agradar particularmente a ideia de um parto natural, aqui fica uma inspiração:

http://www.youtube.com/watch?v=b2sm-6je-Qk

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O bebé sábio

      Ao longo da minha gravidez do Miguel tentei comunicar com ele e falei-lhe sempre uma linguagem vinda do "coração". Muitas vezes, quando estava a sós com ele, cantei-lhe.
Ele também procurava falar comigo e elegia sempre o fim do dia. Julgo que ele escolhia essa hora pois, sendo uma pessoa activa e sempre em movimento, o fim do dia é o momento que escolho para parar e encontrar-me comigo própria.
Era nessa altura do dia que a minha barriga de grávida ficava numa enorme revolução e notavam-se os movimentos do Miguel tentando arranjar espaço..
Era uma procura mais do que de um espaço físico, era a procura de um espaço emocional.
Dado o turbilhão de situações para resolver relacionadas com o bem-estar da minha mãe, o tempo para viver a minha gravidez foi curto. É essa memória que guardo da minha gravidez: que foi muita curta. Tenho a certeza que o Miguel partilha essa sensação comigo.
Eu não tinha pressa que ele nascesse, não me sentia cansada de estar grávida pois a sensação era fabulosa e sentia que ambos precisávamos de mais tempo.
      Quando a situação de saúde da minha mãe se agravou fiquei internada uma semana devido a uma hemorragia. Estava entre as 34 semanas e as 35 semanas de gestação. No internamento fui sujeita ao protocolo habitual quando há risco de parto prematuro. Achei que era desnecessário pois em nenhum momento senti que havia o risco de o Miguel nascer prematuro. Ele  não nasceu prematuro e tive alta uma semana depois, no dia que a minha mãe faleceu. Pedi para me darem alta quando soube que a minha mãe tinha morrido. Queria ir vê-la e tratar de todas as questões necessárias numa altura destas.
      Depois da morte da minha mãe vivi cada segundo desta gravidez pois deixei de sofrer por ela.
      Na minha última consulta de obstetrícia soube que o Miguel nasceria em breve pois o meu corpo estava totalmente preparado para o deixar nascer e ele encontrava-se bem posicionado. Eu estava algo preocupada nesta consulta pois na última ecografia tínhamos verificado que o Miguel tinha tido uma queda brusca e significativa do percentil.
     O Miguel nasceu quase às 39 semanas mas nasceu contra a sua vontade, foi arrancado do meu corpo. Depois de 36 horas de trabalho de parto não evolutivo não pude mais lutar contra uma cesariana.
      "Não quero ainda nascer" dizia o meu bebé sábio numa espécie de grito mudo reclamando pelas suas necessidades.

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A profundidade da vida no útero


       No útero o bebé não se vê mas sente-se. Ele comunica connosco e nós comunicamos com ele. É uma comunicação que vai muito além das palavras. É uma comunicação sem contacto visual mas profundamente íntima.
      Sendo psicóloga e com experiência no acompanhamento de grávidas e puérperas, a enorme consciência desta questão e da  importância desta fase da vida do bebé, deixava-me inquieta relativamente ao meu filho Miguel.   O que entenderia ele da minha tristeza e dos momentos de ansiedade  que vivi na gravidez? Que impacto teriam nele? Como lidaria ele com o meu luto? A minha experiência profissional, a minha formação académica e a minha própria intuição permitiam-me fazer um prognóstico que em muito me desassossegava.
     Tendo a noção que mais este desassossego nada contribuía para ajudar em toda a situação, tentava viver um dia de cada. Nos meu pensamentos conversava muito com ele e, inclusivamente, converti várias vezes estes pensamentos em palavras na esperança que ele pudesse alcançar o conteúdo emocional do que eu lhe dizia.
      É sabido que  uma grávida sujeita a um stress intenso e prolongado não tem como proteger o seu bebé de toda essa vivência emocional estando entre as repercussões mais frequentes o nascimento prematuro, bebés pequenos para a idade gestacional, problemas no sono, choro e irritabilidade frequente. Entre as situações de stress com mais impacto negativo estão os problemas entre os pais, situações de violência, situações de luto.
      Apesar de consciente  de todas estas questões, nada me poderia ter preparado para a intensidade dos desafios que a vida iria colocar-me após o nascimento do Miguel.



                                                  (imagem jornal online Alerta Saúde)                                    

(Vários  autores têm estudado este assunto, pode ler a opinião de Thomas Verny - Autor do livro "A vida secreta da criança antes de nascer" e de Karlton Terry)

http://www.claudiobasbaum.com.br/?A-vida-intima-dos-bebes-dentro-do

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT876203-1666,00.html

http://crescer.sapo.pt/bebe/emocoes/-o-bebe-e-um-ser-unico

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Há coisas que nem a morte nos rouba

Viver em simultâneo uma alegria imensurável e uma tristeza tremenda implica uma gestão emocional particularmente difícil.
Ia ser mãe e ia perder a minha própria mãe.
Julgo que consegui manter-me tranquila tendo em conta a situação mas houve momentos de grande tensão que não pude deixar de viver.
As idas repentinas para a urgência com a minha mãe, horas infindáveis de espera num Hospital, noites sem dormir, assistir às horríveis convulsões que ela sofreu quando o cancro se espalhou, acompanhá-la no seu sofrimento físico e emocional, confrontar-me com o seu corpo sem vida, enterrá-la e dizer-lhe adeus.
Sabia que a ia perder mas não perdemos a esperança de que ela iria chegar a conhecer o Miguel mas, infelizmente, não conseguimos concretizá-lo.
No meio de toda a situação, para além da preocupação em poder estar a lesar o meu filho ainda não nascido por tantos momentos difíceis e intensos, fui percebendo que mais alguma coisa me doía particularmente. O que mais me doía não era a minha perda mas a do meu filho.  Tendo em conta as qualidades afectivas da minha mãe, custava-me muito a ideia de que o Miguel nunca conheceria o sorriso generoso dela, os seus braços sempre abertos, o seu colo apaziguador, o seu amor incondicional.
Passei a minha gravidez a sentir que o Miguel ia perder algo de muito precioso antes sequer de poder vivê-lo.
É um facto que o Miguel nunca conhecerá a avó materna, nem conhecerá o calor do seu colo e dos seus afectos mas há coisas que na verdade nem a morte nos rouba. A morte não me levou o que a minha mãe me deu,  o seu amor e o seu legado.
Através de mim o Miguel viverá um pouco daquilo que era a sua avó.

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O meu bebé tão Sonhado

Sempre soube que seria mãe de um rapaz pois nos meus sonhos sempre aparecia uma criança do sexo masculino. Nos meus sonhos era um menino sem rosto e sem nome.
O meu percurso pessoal e profissional determinou que a minha experiência como mãe do Miguel surgisse mais tarde e ele nasceu quando eu tinha 38 anos.
Este filho foi muitissimo desejado e foi profundamente amado antes sequer de existir.
Quando escolhemos o nome Miguel, soube naquele instante que este sempre lhe esteve destinado...e deixou de ser o menino sem nome que aparecia nos meus sonhos. Foi-se tornando progressivamente real .
As circunstâncias da vida tornaram esta experiência bem diferente daquela que eu tinha idealizado, foi uma gravidez dura e marcada pela doença e morte da minha mãe . A avó materna do Miguel morreu um mês antes de ele nascer.
A gravidez tranquila que imaginei não aconteceu, o parto natural que tanto ansiei também não foi possível pois ele recusou nascer. No dia do seu nascimento o Miguel  passou a ter rosto. Um rosto indescritivilmente expressivo, um olhar atento, uma presença fortissima num corpo pequeno, magro e tenso.
Chegou à minha vida com a força de um "tsunami". A vida  até então tinha-me mostrado que eu podia confiar na minha força, resiliência, coragem e convicção mas ele veio desafiar todas as minhas certezas ,qualidades e competências. Quando pensei que já não teria mais forças  para lidar com um bebé que pouco ou nada dormiu nos primeiros meses, que expressava constantemente uma inquietude, um inconformismo, uma zanga, que dificilmente aceitava que  me afastasse dele o suficiente para me recompor, no momento que me senti vencida por um estado de exaustão devido à enorme privação de sono, consegui reunir a tranquilidade necessária e alguma clareza de espírito para concluir que  a sua força de "tsunami" não era destruidora. Ele reclamava as suas necessidades e queria construir algo precioso. Ele era a oportunidade de eu própria me superar, conhecer-me  mais e melhor do que nunca e inevitavelmente tornar-me uma pessoa melhor. Deixei-me guiar pela minha intuição relativamente à forma de cuidar dele e afastei-me e protegi-me das opiniões e das ideias gerais e pré-concebidas sobre como cuidar de um bebé.
Este Blog é a ti dedicado meu filho Miguel. Obrigado pela enorme dádiva que trouxeste à minha vida. Obrigado pela tua  presença especial, genuína e pela tua generosidade. Passaria novamente por todos os sofrimentos, todas as lágrimas,  todos os cansaços só para te conhecer e ter-te na minha vida.
Não existem palavras que realmente te possam dizer o quanto te amo, espero que os meus actos falem por si e te possam trazer a paz que mereces e procuras.

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