Se o seu bebé a desgasta mais do que seria expectável, sente-se tão cansada e com tanto sono que não sabe por quanto tempo mais aguentará...talvez agora se possa sentir um pouco menos sozinha pois garanto-lhe que sei exactamente o que isso é.
William Sears, pediatra americano, descreve o que é um High need baby. Pode consulta o texto original em inglês:
http://www.askdrsears.com/topics/health-concerns/fussy-baby/high-need-baby/12-features-high-need-baby
Os espanhóis chamam-lhes de Bebés de alta demanda e os franceses de Bébés aux besoins intenses (Babi).
Por simpatia com o termo francês vou chamá-los de Babi.
Os Babi são bebés que podem ter várias ou todas as seguintes características:
1) Intensos - são extremamente enérgicos, parecem estar sempre alerta, tensos e preparados para a acção. Choram alto, protestam com força, riem com gosto.
2) "Hiperactivos" - Corpo e mente em permanente agitação e tensão. Em comparação com as outras crianças são mais activos. Dormem pouco e procuram sempre algo para explorar e desafios novos.
3) Absorventes - absorvem toda a energia dos seus pais. Exigem constante atenção, contacto, carinhos, colo, brincadeiras. Exigem dos seus pais uma disponibilidade quase sobre humana e uma paciência imensa. O desafio reside em manter sempre uma atitude positiva.
4) Mamam com frequência - com estes bebés não será possível respeitar o intervalo entre refeições muitas vezes recomendado pelos pediatras. Deverá amamentar em livre demanda, isto é, sempre que o bebé pedir. Mamam rápido e muitas vezes.
5) Exigentes - Não gostam de esperar, são pouco flexíveis e dificilmente aceitam alternativas. Quando não vêm as suas exigências cumpridas manifestam intensamente o seu desagrado.
6) Acordam com frequência - Durante o dia não dormem ou fazem sonos muito curtos (de alguns minutos). Durante a noite acordam com muita frequência (há pais que referem cerca de 10 vezes por noite. Têm um sono muito leve acordando muito facilmente ao mínimo ruído. Poderá ser difícil acalma-los e faze-los regressar ao sono.
7) Insatisfeitos - Há dias que nada os acalmará e os pais acabam por sentir-se totalmente impotentes e, muitas vezes, acabam por duvidar das suas competências enquanto pais.
8) Imprevisíveis - O que funcionou num dia para acalmá-lo poderá já não ser útil no ia seguinte. Tendem também a mudanças frequentes de "humor": quando estão felizes são os bebés mais felizes do mundo mas quando estão aborrecidos são os bebés mais difíceis do mundo. Os pais destes bebés sentem-se frequentemente frustrados e cansados.
9) Super-sensíveis - Estão sempre alerta o que os torna muito sensíveis ao ambiente que os rodeia reagindo com intensidade a mudanças ou ambientes desconhecidos. Dificilmente aceitam cuidadores substitutos.
10) Exigem colo e contacto constantes - Eles exigem colo e contacto físico constante mas para alguns nem isso os acalmará. Muitos exigem um "colo andante".
11) Não se acalmam sozinhos - Precisam de ajuda para dormir pois não sabem relaxar sozinhos.
12) Sensíveis à separação - Não gostam de se separar dos seus pais, dificilmente aceitam cuidadores substitutos e demoram a afeiçoar-se a estranhos.
Estas características poderão manifestar-se em diferentes fases do desenvolvimento.
O meu bebé exigente
Welcome to Boot Camp
Como recepção de boas vindas a obstetra de serviço recusou assinar a minha entrada na maternidade por ter optado pelo parto natural.
Apesar de estarmos em Maio a maternidade era tão quente que parecia estarmos num tórrido dia de Verão suando constantemente.
Os meus pés estavam tão inchados que pareciam que iam rachar à mínima tentativa de caminhar.
No quarto onde estávamos, dois dos outros bebés tinham nascido de cesarianas feitas com anestesia geral. Eram bebés particularmente irritáveis que choraram sem parar desde que nasceram, provavelmente, pelas circunstâncias dos seus nascimentos. As mães destes bebés passavam o tempo a tocar à campainha pedindo socorro às enfermeiras por não entenderem o que se passava com os seus bebés, incapazes de os acalmar e completamente dominadas pelo sono. O terceiro bebé tinha nascido de parto vaginal com epidural mas tinha uma inflamação acentuada nos olhos que o incomodava e o impedia de sossegar.
A determinada altura, dado o Miguel estar sempre a mamar numa tentativa de se saciar, por o leite ainda não ter descido, os meus mamilos ficaram gretados e mal suportava qualquer roupa em cima.
Às duas da manhã tive direito a um raspanete de uma das enfermeiras, que não primava nada pela simpatia, dizendo que eu teria de, obrigatoriamente, usar o soutien de amamentação.
Os vários tipos de violência subliminar muito presente naquele quarto deixavam-me espantada e a minha intuição dizia-me para ser o mais discreta possível e ficar no meu canto com o meu filho.
Exceptuando para o pai só havia uma hora de visita ao fim da manhã o que significou que recebi apenas uma visita de uma amiga que morava na região dado que me encontrava longe de casa.
As primeiras horas
Nas primeiras 12 horas estiveste tranquilo numa espécie de estado de hibernação...talvez ainda como eu meio atordoado com as substâncias administradas para a cesariana.
Lembro-me da mensagem que enviei aos familiares e amigos a comunicar o teu nascimento: "Por enquanto é sereno..." . Parece que dentro de mim algo já sabia que virias a expressar-te de forma intensa e quase estranhava aquele ar pacífico e de quem dorme profundamente esquecido de si próprio e do mundo.
Deliciei-me a olhar para ti enquanto permanecia numa mistura entre cansaço extremo e espanto. Eu estava fascinada com o facto de estares junto a mim...tinha sido um caminho tão longo. Por momentos tinha receio que a tua existência fosse apenas um sonho bom. Tentei absorver e decorar cada expressão e cada gesto teu.
À nossa volta havia um ruído imenso mas durante algum tempo conseguimos manter-nos só tu e eu numa outra dimensão.
Já não dormia há dois dias e acabei por adormecer cerca de 45 minutos. Recebemos uma visita e eu nem dei conta pois abandonei-me por um pouco ao meu estado de exaustão. Quando acordei tu continuavas ali, num pequeno berço transparente, e aos pés da cama tinha um carinhoso recado de uma amiga.
O Encontro do elevador
Mamaste pela primeira vez no recobro e não mostraste qualquer dúvida ou hesitação sobre como o fazer.
Depois levaram-nos para o quarto e foste deitado na cama comigo. Fomos levados pelos corredores do Hospital até que chegámos junto a um elevador que nos ia levar para outro piso.
Momentaneamente, as auxiliares que nos levavam afastaram-se. Nessa altura, uma mulher emocionada aproximou-se de nós e disse que tu eras lindo e deu-me os parabéns. Contou-me rapidamente que a filha estava em trabalho de parto e aguardava ali por ela para tentar vê-la de passagem.
Felicitou-me em jeito de despedida bastante emocionada e maravilhada pela tua presença. Senti uma saudade incrível da tua avó. Não me recordo das feições daquela mulher, não sei quem é, nem o seu nome e ela nunca saberá a importância da sua fugaz presença naquele momento.
Que bom ter-te aqui!
Que bom ter-te aqui!
Que bom poder sentir-te!
Que bom poder cheirar-te!
Quando te vi pela primeira vez não pude abraçar-te tal como merecias ao chegar.
Quando te vi achei-te incrivelmente parecido com o teu pai e a expressão "mini-Paulo" passou na minha cabeça com uma pitada de humor apesar de todo o enquadramento.
Estavas a dormir quando nasceste.
Levaram-te para longe de mim e pouco depois ouvi-te chorar. Trouxeram-te pouco depois e uma enfermeira encostou-te à minha cara. Tentaste mamar na minha bochecha e a enfermeira riu.
Como ainda estavam a terminar a cirurgia levaram-te novamente.Voltei a ver-te no recobro e vieste ter comigo no colo do teu pai. Este foi o momento mais emotivo e mais feliz da minha vida: ver-te chegar para os meus braços no colo do teu pai.
Que bom ter-te finalmente comigo: és simplesmente maravilhoso e fascinante.