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Há coisas que nem a morte nos rouba

Viver em simultâneo uma alegria imensurável e uma tristeza tremenda implica uma gestão emocional particularmente difícil.
Ia ser mãe e ia perder a minha própria mãe.
Julgo que consegui manter-me tranquila tendo em conta a situação mas houve momentos de grande tensão que não pude deixar de viver.
As idas repentinas para a urgência com a minha mãe, horas infindáveis de espera num Hospital, noites sem dormir, assistir às horríveis convulsões que ela sofreu quando o cancro se espalhou, acompanhá-la no seu sofrimento físico e emocional, confrontar-me com o seu corpo sem vida, enterrá-la e dizer-lhe adeus.
Sabia que a ia perder mas não perdemos a esperança de que ela iria chegar a conhecer o Miguel mas, infelizmente, não conseguimos concretizá-lo.
No meio de toda a situação, para além da preocupação em poder estar a lesar o meu filho ainda não nascido por tantos momentos difíceis e intensos, fui percebendo que mais alguma coisa me doía particularmente. O que mais me doía não era a minha perda mas a do meu filho.  Tendo em conta as qualidades afectivas da minha mãe, custava-me muito a ideia de que o Miguel nunca conheceria o sorriso generoso dela, os seus braços sempre abertos, o seu colo apaziguador, o seu amor incondicional.
Passei a minha gravidez a sentir que o Miguel ia perder algo de muito precioso antes sequer de poder vivê-lo.
É um facto que o Miguel nunca conhecerá a avó materna, nem conhecerá o calor do seu colo e dos seus afectos mas há coisas que na verdade nem a morte nos rouba. A morte não me levou o que a minha mãe me deu,  o seu amor e o seu legado.
Através de mim o Miguel viverá um pouco daquilo que era a sua avó.

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2 comentários:

Unknown disse...

Especialmente tu... que por seres tão genuína, merecias ter vivido estas experiências: da gravidez, do parto, do primeiro ano do Miguel, de forma tão mais tranquila!
Mas deve ser isso que a Mãe Natureza faz:
Desafia apenas os melhores!
Ou achas que a tua vida teria a mesma graça se não fosse esse desafio? No qual te superas sempre mais um pouco. No qual explanas as tuas vivências de forma excelente num blog. No qual pessoas te admiram (a começar por mim).
Te invejam a força.
E nesse desafio... quando julgas que já não tens mais nada para dar... surge uma nova energia! É isso que os nossos filhotes fazem, aborvem-nos TUDO... esgotam-nos... mas contagiam-nos com a VIDA que têm dentro deles e depois... maravilhámo-nos e viciámo-nos nisso e neles!
Especialmente tu... compreendes.

Sónia disse...

Obrigado pelas palavras carinhosas. A admiração é mútua. Em ti gosto especialmente do positivismo que sinto ser responsável por parte dessa espécie de "luz" que te acompanha e que conduz em tua direcção as coisas boas que te acontecem.

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