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O bebé sábio

      Ao longo da minha gravidez do Miguel tentei comunicar com ele e falei-lhe sempre uma linguagem vinda do "coração". Muitas vezes, quando estava a sós com ele, cantei-lhe.
Ele também procurava falar comigo e elegia sempre o fim do dia. Julgo que ele escolhia essa hora pois, sendo uma pessoa activa e sempre em movimento, o fim do dia é o momento que escolho para parar e encontrar-me comigo própria.
Era nessa altura do dia que a minha barriga de grávida ficava numa enorme revolução e notavam-se os movimentos do Miguel tentando arranjar espaço..
Era uma procura mais do que de um espaço físico, era a procura de um espaço emocional.
Dado o turbilhão de situações para resolver relacionadas com o bem-estar da minha mãe, o tempo para viver a minha gravidez foi curto. É essa memória que guardo da minha gravidez: que foi muita curta. Tenho a certeza que o Miguel partilha essa sensação comigo.
Eu não tinha pressa que ele nascesse, não me sentia cansada de estar grávida pois a sensação era fabulosa e sentia que ambos precisávamos de mais tempo.
      Quando a situação de saúde da minha mãe se agravou fiquei internada uma semana devido a uma hemorragia. Estava entre as 34 semanas e as 35 semanas de gestação. No internamento fui sujeita ao protocolo habitual quando há risco de parto prematuro. Achei que era desnecessário pois em nenhum momento senti que havia o risco de o Miguel nascer prematuro. Ele  não nasceu prematuro e tive alta uma semana depois, no dia que a minha mãe faleceu. Pedi para me darem alta quando soube que a minha mãe tinha morrido. Queria ir vê-la e tratar de todas as questões necessárias numa altura destas.
      Depois da morte da minha mãe vivi cada segundo desta gravidez pois deixei de sofrer por ela.
      Na minha última consulta de obstetrícia soube que o Miguel nasceria em breve pois o meu corpo estava totalmente preparado para o deixar nascer e ele encontrava-se bem posicionado. Eu estava algo preocupada nesta consulta pois na última ecografia tínhamos verificado que o Miguel tinha tido uma queda brusca e significativa do percentil.
     O Miguel nasceu quase às 39 semanas mas nasceu contra a sua vontade, foi arrancado do meu corpo. Depois de 36 horas de trabalho de parto não evolutivo não pude mais lutar contra uma cesariana.
      "Não quero ainda nascer" dizia o meu bebé sábio numa espécie de grito mudo reclamando pelas suas necessidades.

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