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O Nascimento

        A altura do nascimento é um momento importante para toda a família mas sobretudo para os  "actores" principais: mãe e bebé.
       Sabendo da importância de um parto natural e da possibilidade de intervenções como o parto provocado, de uma cesariana, da analgesia epidural poderem contribuir para uma vivência traumática do momento do parto para o bebé, preparei-me para um parto natural e o menos medicalizado possível.
      Durante vários meses li sobre estas questões e li as recomendações da OMS:

http://www.bionascimento.com/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=19

      Dado que não receava a dor do parto percebi que esta era a opção certa para mim e era a forma como eu queria viver este momento com o meu filho.
     Apesar de confiar plenamente no meu obstetra que trabalha num Hospital particular, de ser uma pessoa extremamente empática e humana, sabia que seria difícil escapar a algumas das intervenções  no momento do parto tendo em conta os protocolos do Hospital e a disponibilidade do médico para garantir que seria ele a assistir o parto.
      Optei por um Hospital público com um projecto de parto natural e com a possibilidade de fazer o trabalho de parto na água.
      No dia 6 de Maio, um pouco antes da meia noite, rebentaram-me as águas. Não queria ir logo no início do trabalho de parto para o Hospital por isso passei essa noite em casa. Passei a noite acordada pelo entusiasmo da proximidade do nascimento do Miguel . Às 7 da manhã decidimos que era hora de ir para a maternidade dado que a bolsa já estava rota há várias horas e porque me sentia inquieta dado perceber que não havia evolução do trabalho de parto. Apesar de ter intuído que algo podia não correr bem decidi fazer todo o possível para conseguir um parto natural e ir para a maternidade escolhida apesar de ser longe de casa.
       O Miguel só nasceu às 7:57 da manhã do dia 8 de Maio. Mantive-me sorridente e entusiasmada a maior parte do tempo de trabalho de parto, as contracções eram bastante dolorosas mas suportáveis mas no fundo a minha inquietude mantinha-se pois a dilatação pouco evoluía. Como a dilatação não evoluía o suficiente para poder entrar na piscina, ia aliviando-me com uns duches. A determinada altura percebi que algo tinha acontecido pois para além das dores das contracções, apareceu outra dor constante e muito difícil de suportar que se agravava muito durante as contracções. Parecia que a minha bexiga estava a ser arrancada e que uma espada me atravessava o lado direito do meu corpo. Foi nessa altura que decidiram tentar emergir-me na piscina mas as dores eram tantas que não consegui relaxar ou beneficiar de qualquer ajuda que a água me pudesse dar. Comecei a questionar a enfermeira que estava presente sobre se algo de errado se passava. Lembro-me de perguntar se estaria com uma cólica renal. Mais tarde chega uma enfermeira mais experiente que me explica que o Miguel se tinha deslocado e que era a posição em que ele se encontrava que me provocava aquelas dores.  Extremamente cansada pelas dores e pela falta de sono, depois de 30 horas de trabalho de parto comecei a perceber que o meu filho não nasceria naturalmente. Desconfiei que tudo acabaria numa cesariana e questionei uma enfermeira para me confirmar o que eu já sabia: se a cesariana tivesse de ser repentina por o bebé entrar em sofrimento seria com anestesia geral. Pior que uma cesariana seria uma cesariana com anestesia geral e estar a dormir enquanto o meu filho nascia. Após 36 horas cedi à oxitocina  como última tentativa de ter um parto vaginal e depois à epidural para o caso de tudo terminar numa cesariana. O Miguel nunca mostrou sinais de sofrimento mas tinha-se desviado da sua trajectória e o trabalho de parto parou. Teríamos de fazer uma cesariana disse-me uma das obstetras dado eu estar há muitas horas com a bolsa rota e, nesta fase, eu já estava tão preocupada com o meu filho e tão exausta que já só desejava vê-lo. Chorei durante toda a cesariana de forma silenciosa mas não conseguindo conter a desilusão de ter o meu filho através de uma cirurgia . Senti a intervenção como um momento extremamente agressivo. Apesar disso, o momento não foi traumático para mim pois a felicidade de olhar o meu filho reduziu aquele momento a um mal necessário para o ter nos meus braços. O que representou verdadeiramente para o Miguel, ser arrancado daquela forma de dentro de mim, é algo que não vou poder afirmar como uma verdade  inquestionável mas julgo ter uma convicção sobre esse assunto que muito se deve aproximar da realidade. Sobretudo porque o Miguel lutou de todas as formas que podia para ficar onde ele achava ainda ser o seu lugar: no ventre da sua mãe.
       Para quem agradar particularmente a ideia de um parto natural, aqui fica uma inspiração:

http://www.youtube.com/watch?v=b2sm-6je-Qk

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